O CORAÇÃO ENDURECIDO

Sábado, 2 de Agosto

VERSO PARA MEMORIZAR:


Leituras da semana:
Êxodo 9
Apartir do Título, e do estudo da semana, anote suas impressões sobre o que se trata a lição:

Pesquise: em comentários bíblicos, livros denominacionais e de Ellen G. White sobre temas neste texto: Êxodo 9

* Estude a lição desta semana para se preparar para o Sábado, 09 de Agosto.

Domingo, 3 de Agosto

Um dos desafios mais difíceis que os cristãos fiéis enfrentam é entender qual papel Deus desempenha em suas vidas e no mundo ao seu redor. Os cristãos universalmente creem que nosso Deus é um Deus poderoso que pode e responde às orações de Seus seguidores. Mas como isso acontece? Deus obriga as pessoas a agirem contra sua vontade para responder à oração de outra pessoa? Deus direciona as decisões de um indivíduo? Os cristãos muitas vezes são desafiados a articular quando e como Deus demonstra Seu poder em relação à liberdade individual.

A questão de quanto controle temos sobre nossas vidas e ações tem sido um tema de intenso debate. Muitas igrejas cristãs ao longo da história ensinaram a doutrina da predestinação de uma forma que deixa pouco espaço para o livre-arbítrio humano. Agostinho, o bispo de Hipona, no norte da África, argumentou que a predestinação significa que Deus decide o destino humano—que a graça de Deus, que Ele concede livremente àqueles que escolhe, é necessária para converter a vontade da humanidade caída em uma que escolhe a Deus. Dessa forma, Deus se torna o único árbitro de quem é salvo.

A igreja nos dias de Agostinho acabou não aceitando sua interpretação, mas durante a Reforma Protestante, cerca de mil anos depois, Martinho Lutero e especialmente João Calvino usaram as ideias de Agostinho para formular parte de seu entendimento sobre o papel de Deus na salvação da humanidade. Calvino, por fim, sugeriu que Deus escolhe tanto salvar os eleitos quanto condenar os ímpios—que Ele predestina alguns para o céu e outros para o inferno. Os Adventistas veem muitos problemas nessa visão da predestinação. Esse debate está diretamente conectado com Êxodo 9, o texto chave que estamos estudando nesta semana, no qual continuamos a refletir sobre o papel de Deus em libertar os hebreus da escravidão.

Segunda, 4 de Agosto

Quando Deus apareceu pela primeira vez a Moisés na sarça ardente no monte Horebe, Ele o alertou sobre o desafio que enfrentaria ao lidar com o Faraó: “Eu sei que o rei do Egito não vos deixará ir, nem ainda por uma mão forte” (Êxodo 3:19). No capítulo seguinte, Deus reformulou: “Quando voltares ao Egito, atenta que faças diante de Faraó todas as maravilhas que tenho posto na tua mão; mas eu endurecerei o seu coração, para que não deixe ir o povo” (4:21). Nessas duas declarações, vemos descritos tanto o livre-arbítrio do Faraó quanto o poder de Deus. Por um lado, o Faraó não queria deixar o povo ir. Por outro, Deus agiu para endurecer seu coração nesse assunto. Então, quem estava no controle?

Ganhamos uma compreensão mais clara se continuarmos acompanhando a narrativa das pragas. Após o pedido inicial de Moisés, o Faraó respondeu com desafio: “Quem é o Senhor, cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco deixarei ir Israel” (Êxodo 5:2). Através das pragas, o Faraó estava prestes a descobrir. Antes que Moisés e Arão fossem novamente falar com o Faraó, Deus reiterou: “Eu endurecerei o coração de Faraó, e multiplicarei os Meus sinais e as Minhas maravilhas na terra do Egito” (Êxodo 7:3). Então, após o milagre da vara que se tornou serpente, Moisés descreveu a reação do Faraó escrevendo: “O coração de Faraó se endureceu” (Êxodo 7:13). Depois, “o Senhor disse a Moisés: O coração de Faraó está endurecido; recusa deixar ir o povo” (Êxodo 7:14). Isso continua com a narrativa afirmando que ou o Faraó “endureceu o seu coração” (Êxodo 8:15) ou seu coração “se endureceu” (Êxodo 7:13, 22; 8:19). Nenhuma dessas expressões descreve Deus endurecendo o coração do Faraó. O Faraó estava fazendo isso por si mesmo.

A narrativa muda em Êxodo 9:12, onde vemos Deus intervir e endurecer o coração do Faraó. Então, após as pragas oito e nove e antes da décima praga, a narrativa afirma mais uma vez que o Senhor endureceu o coração do Faraó (Êxodo 10:20, 27; 11:10). Isso não foi um ato arbitrário de Deus. Quando a presença de Deus se aproxima de uma pessoa, uma mudança acontece. Ou o coração se torna mais brando ou mais duro. É impossível permanecer neutro quando uma mensagem vem de Deus.

O Faraó havia repetidamente se recusado a amolecer seu coração, e ver os milagres de Deus apenas o endureceu ainda mais. Cada apelo, cada praga, cada repreensão tornou seu coração mais obstinado.

Terça, 5 de Agosto

As questões do livre-arbítrio levantadas pela história do endurecimento do coração do Faraó recebem mais atenção no Novo Testamento. Na carta de Paulo aos Romanos, ao discutir a aparente falha das promessas de Deus, Paulo culminou seu argumento sobre o conhecimento e o controle de Deus sobre as ações humanas com a história do Faraó. Paulo primeiro lembrou ao leitor como Deus disse a Rebeca, a respeito dos gêmeos que ela estava gerando: “O maior servirá ao menor. Como está escrito: Amei a Jacó, mas aborreci a Esaú” (Romanos 9:12, 13).

Percebendo que seu público romano poderia interpretar mal essas declarações sobre o relacionamento de Deus com Jacó e Esaú, Paulo rapidamente citou Êxodo 33:19: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer”. (Romanos 9:15) Aqui, Paulo destacou que Deus está acima de todos, atribuindo somente a Ele o direito de escolher o que fazer com Sua própria misericórdia e compaixão.

Na passagem sobre Jacó e Esaú, Paulo citou duas passagens distintas do Antigo Testamento. A primeira é de Gênesis 25:23 e a segunda de Malaquias 1:2, 3—o primeiro e o último livro do Antigo Testamento, respectivamente. As declarações de Deus sobre o mais velho servir ao mais novo e sobre amar um e odiar o outro foram separadas por mil anos. Paulo sabia disso, mas muitos leitores não. Quando conhecemos a história do Antigo Testamento, percebemos que a afirmação de Deus sobre odiar Esaú veio depois de séculos de Esaú e seus descendentes, os edomitas, agirem como inimigos, e não como irmãos, de Jacó e seus descendentes, os israelitas.

Além disso é essencial lembrar que o Faraó estava decidido a recusar a ordem de Deus para deixar Israel ir. Deus interveio e endureceu o coração do Faraó somente depois que ele demonstrou que, em nenhuma circunstância, se humilharia e amoleceria seu coração para com Deus—mesmo diante da possível destruição de sua nação e de sua família.

Compreender a história em Êxodo nos ajuda a ver o ponto que Paulo estava defendendo em Romanos. Paulo queria deixar claro que nada nas interações de Deus com os seres humanos é acidental ou está fora de Seu conhecimento e plano. Quando os escritores bíblicos dizem que Deus está no controle, isso não diminui nosso próprio livre-arbítrio de responder ao chamado de Deus.

Quarta, 6 de Agosto

Ah, como é difícil lidar com o livre-arbítrio! Mal o entendemos e, na maioria das vezes, ao usarmos dele, que deveria ser um benefício, acabamos nos atrapalhando nas escolhas e caindo em armadilhas.

Como entender o agir de Deus, o chamado para fazer Sua vontade e não a nossa e, ainda assim, estar sob a liberdade de escolha? Como viver a liberdade dentro da vontade de Deus?

A liberdade de escolha, embora controversa para muitos estudiosos, continua sendo a maior prova de respeito divino às Suas criaturas.

Na dúvida em não saber como viver com algo tão poderoso em mãos, que tal entregar o livre-arbítrio a Deus e deixar o Espírito nos guiar?

Como os seguintes textos nos ajudam a compreender melhor o que a Bíblia ensina sobre a predestinação e o endurecimento do coração do faraó?

• Deus conhece o futuro: Juízes 13; Lucas 1:5-25; João 13:18-30

• Algumas profecias são condicionais: Jeremias 18:1-10; Jonas 3; Jonas 4

• O desejo de Deus para cada pessoa: Efésios 1:3-5; 1Timóteo 2:3, 4; 2 Pedro 3:9

Quinta, 7 de Agosto

As Escrituras hebraicas profetizaram que alguém agiria como traidor na vida do Messias. O Salmo 41:9 diz: "Até o meu próprio amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar".

Durante a Última Ceia, Jesus declarou: "Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me trairá" (João 13:21). As ações de Judas foram claramente profetizadas e antecipadas, então onde entra o livre-arbítrio dele nessa história trágica? Ele foi obrigado a trair seu Mestre?

Ao buscar entender como Jesus e os profetas do Antigo Testamento sabiam o que Judas faria muito antes do momento chegar, pode ser esclarecedor considerar como Jesus tratou Judas até o instante em que as Escrituras nos dizem que Satanás entrou em Judas (Lucas 22:3). Pelo Evangelho de João, aprendemos que Jesus e Judas provavelmente estavam sentados lado a lado, pois Jesus pessoalmente lhe deu pão para comer. Entregar comida diretamente a alguém ou alimentar alguém é um sinal de amor sincero e intimidade. Ainda hoje, em recepções de casamento, muitas culturas têm a tradição de a noiva e o noivo alimentarem um ao outro com um pedaço do bolo. Portanto, quando Jesus ofereceu comida a Judas com Suas próprias mãos, Ele estava tangivelmente oferecendo amor e amizade.

A previsão de Jesus sobre as ações de Judas não foi uma declaração formal de predestinação, mas sim um apelo final — semelhante à pregação de Jonas aos ninivitas (Jonas 3:1–4). Caso contrário, por que Ele teria dado a Judas a chance de tomar uma decisão diferente? Sabendo disso, podemos ver que as profecias do Antigo Testamento dadas por Deus (e as próprias declarações de Jesus) de forma alguma forçaram Judas a fazer qualquer coisa. Naquele pedaço de comida, Jesus fez um chamado claro ao arrependimento. Judas rejeitou a oportunidade por sua própria vontade, demonstrando que Deus saber de antemão quais decisões tomaremos não significa que Ele nos force a escolher um determinado caminho.

As interações de Deus com Judas e com o Faraó nos lembram da importância de como respondemos aos convites de Deus. Cada vez que rejeitamos o chamado de Deus, tornamos mais fácil rejeitá-Lo novamente na próxima vez. O inverso também é verdadeiro. Cada vez que seguimos a Deus, ganhamos mais força para fazer a escolha certa na próxima vez.

Sexta, 8 de Agosto

"Deus não fez Faraó obstinado e inflexível. Ele continuou a dar-lhe luz, e a crescente obstinação do rei trouxe seu resultado inevitável. Ao resistir à vontade de Deus, semeiam-se sementes de desobediência, e colhe-se uma safra de mal. Uma semente de incredulidade gera outra e mais forte. Pela submissão à vontade de Deus, semeiam-se sementes que produzirão uma rica colheita de bem. A semente que é semeada é a semente colhida; pois a semente se reproduz. 'Porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará' (Gálatas 6:7). Como agentes responsáveis, todos estão decidindo por si mesmos qual será sua colheita.

"Deus nunca instiga ninguém à maldade. Ele nunca leva o homem a tornar-se desesperado em sua rebelião. Ele não quer que nenhum pereça, mas que todos se salvem. Mas Ele não força ninguém a aceitar a luz. Se, depois de longa paciência com o homem, Deus vê que ele não se submeterá, deixa-o entregue ao seu natural ódio. Entrega-o ao pior de todos os tiranos — a si mesmo" (Ellen G. White, The Youth's Instructor, 25 de maio de 1899).

"O Senhor disse a Moisés: 'Quando voltares ao Egito, atenta que faças diante de Faraó todas as maravilhas que tenho posto na tua mão; mas eu endurecerei o seu coração, para que não deixe ir o povo' (Êxodo 4:21). Isto é, a exibição do poder onipotente diante de Faraó, sendo por ele rejeitada, torná-lo-ia mais duro e firme em sua rebelião. Mas o Senhor governaria o curso deste monarca arrogante, de modo que sua obstinação e perversidade fizessem o nome de Deus ser engrandecido perante os egípcios e também perante o Seu povo" (Ellen G. White, The Signs of the Times, 26 de fevereiro de 1880).

"Não que Deus o houvesse criado para esse fim, mas Sua providência havia dirigido os acontecimentos para colocá-lo no trono exatamente no tempo designado para a libertação de Israel. Embora este tirano arrogante houvesse, por seus crimes, perdido o direito à misericórdia de Deus, sua vida fora preservada para que, por meio de sua obstinação, o Senhor pudesse manifestar Seus prodígios na terra do Egito. A disposição dos acontecimentos pertence à providência de Deus. Ele poderia ter colocado no trono um rei mais misericordioso, que não ousaria resistir às poderosas manifestações do poder divino. Mas, nesse caso, os propósitos do Senhor não teriam sido cumpridos" (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [2022], p. 222).